FAQ Feminista

Posted in Educação, Gênero, O pessoal é político às 2:44 pm por Deborah Sá

 FAQ é um acrônimo da expressão inglesa Frequently Asked Questions, que significa Perguntas Freqüentes

Você fala por quem? É uma porta-voz do feminismo?

Minhas opiniões são resultados das experiências que vivenciei, em dado momento optei por compartilhá-las através de um blog e fóruns da internet, quando essas declarações atingiram pessoas, elas reagiram: Algumas me contaram processos de superação similares aos que expus (abuso na infância e imagem deturpada por humilhações, por exemplo), outros “trollaram”.

Cada feminista possui convicções e exerce a individualidade de modo conveniente, há Feministas Onívoras, Fumantes, Espíritas, Atéias, Veganas, Católicas… Com essa pluralidade há de se esperar que ocorram divergências entre correntes de pensamento e suas associações com outras lutas, portanto, o que expresso aqui é uma interpretação pessoal.

“Os animais existem por suas próprias razões. Eles não foram feitos para humanos, assim como negros não foram feitos para brancos ou mulheres para os homens.” Alice Walker

Faz parte de algum coletivo? Acha que para ser feminista é preciso sair às ruas? Faz parte de algum partido?

Não possuo filiação em nenhum partido, já frequentei coletivos, mas hoje não sou associada a nenhum. As mulheres não são um número expressivo em manifestações sendo pouco estimuladas a participar da vida política (pública), a maior parte das tarefas “femininas” são reservadas ao “privado”. Logo, é indicado que mulheres ocupem os espaços (inclusive virtuais, as “web celebridades” são em sua maioria homens), mas isso é uma escolha que cabe a cada uma de nós (se expor ou não).

Acho que sou um pouco feminista, não sou radical. Gosto de homens.

Existem feministas hétero, qual seu conceito de “radical”?
Ser radical é ir na “raiz do problema”, no caso feminista é ir contra valores Patriarcais: A soberania do homem (e o que é associado) sob a mulher (e tudo o que ela representa). São os homens que criam as categorias “de foder” e “de casar”, gabam-se ao trepar com mais de seis mulheres em uma única noite, contando suas “performances” entre outros homens propiciando “a essas tais o que merecem”.

Os equívocos nesse método restringem tod@s em seus genitais, um homem que bate no peito para dizer “Gosto é de cu e buceta” expõe quão limitada é sua prática sexual. É lastimável reduzir uma mulher disposta sexualmente em: “buceta-pau”.

Não sou feminista nem machista, sou humanista.

Feminismo é defender a independência das mulheres sobre seus corpos, a igualdade entre os gêneros também questiona as restrições emocionais que homens são submetidos: Não chorar nem demonstrar afeto entre tantas outras. No Feminismo “quem perde” são os homens que desejam controlar a vida das mulheres: Como se vestem e comportam, com quem devem fazer sexo…

Feminismo não tem muitos adeptos porque vocês não têm paciência de explicar! Grossas!

Nem todos que questionam o feminismo o fazem genuinamente, muitos iniciam interrogatórios simplesmente pelo prazer de irritar. Inúmeras vezes fornecemos dados, debatemos e nos dispomos a esclarecer as dúvidas para ouvir em resposta ofensas estéticas. Imagine advogar uma causa seriamente para aqueles que não estão dispostos a nada além de ridicularizar. Quer entender melhor o feminismo? Converse com uma feminista, se informe, use o Google, não culpe as feministas (que não são obrigadas a ter paciência infinita) pela sua preguiça.

Homens e mulheres são biologicamente diferentes!

Determinismo Biológico pode ser ultrapassado, embora faça sentido em algumas abordagens na mídia. É hora de superar isso, não?

Mulher gosta de cafajeste! Bonzinho só se fode!

Se um relacionamento não satisfaz é melhor encerrá-lo, mas já que os termos de análise são esses, há mais razões para mulheres abandonarem seus relacionamentos com o sexo masculino: São estatisticamente eles que roubam, matam, estupram, torturam, traem, seqüestram…

Mulheres educam crianças, a culpa do machismo é delas que ensinam isso.

A educação de uma criança e seu plano Pedagógico é configurada por todas as esferas sociais que interagir: Escola, entretenimento, amizades, brincadeiras, incluindo o relacionamento com seus tutores. Similarmente não dá pra culpar os gays pela homofobia, nem as negras pelo racismo. Há várias ramificações dos problemas da sociedade, não dá pra culpar um único foco, muito menos o alvo.

O machismo é violência VÍDEO

Feministas se vitimizam, tem até lei Maria da Penha!

Mulheres são vistas como passíveis de estupro, sair de casa tarde da noite é correr um risco além de ser assaltada, há quem culpe a roupa, a profissão, até os gestos para justificar um “corretivo peniano”, como se ao violar um corpo fosse suficiente para discipliná-lo socialmente. Estupro não é “punição”, é um crime de ódio. Qualquer mulher que já transitou sozinha em uma via pública temeu ataques dessa espécie, não é uma suposição paranóica. A violência contra a mulher está mais perto do que imaginamos, o difícil é quebrar o silêncio sabendo que nem todos acreditarão no que diremos.

Homens têm instintos, vocês não estupram porque não tem força.

Assumir que homens tenham impulsos incontroláveis de violência e atribuir caráter “estuprável” ás mulheres é conclusão abjeta. Mulheres não recebem qualquer estímulo ao desenvolvimento de massa e força física, no entanto, qualquer mulher sem treinamento encontra seres mais fracos os quais poderia golpear, todavia, são os homens que agridem em maior número crianças e animais.

Por que vocês escrevem com arrobas? Ou a letra X?

Em uma sala repleta de mulheres com um só aluno presente, faz-se necessário chamá-los de “alunos”, do contrário a masculinidade será ofendida. Nas escolas ouvimos “A História do Homem” por supormos que mulheres são contempladas. Em termos gerais as referências são masculinas e brancas, as arrobas e a letra x também são usadas em outros movimentos de inclusão como o Anarquismo.

Homens podem ser feministas?

Sim! E o mundo é “misto” .

Há muitos ambientes onde mulheres, negr@s, trans e cadeirantes podem debater, por isso defendo ações afirmativas (espaços exclusivos). Criar um espaço de fortalecimento da identidade não é sinônimo de segregação, as minorias necessitam de representatividade para que sejam atendidas, um morador de bairro nobre por mais bem intencionado, não conhece as especificidades de um bairro periférico.

A mulher moderna tem muitas tarefas, era bom o tempo que éramos Amélias, os casamentos duravam mais, havia menor número de divórcios

O feminismo defende a liberdade, se uma esposa está insatisfeita com uma relação encerrá-la será benéfico, qual o propósito de ser maltratada e permanecer em humilhação? Dependência econômica? Emocional? É nocivo para a auto-estima permanecer em um casamento infeliz, é fato que os casamentos duravam mais, as mulheres subjugavam-se em silêncio.

Integrar o mercado de trabalho foi uma das conseqüências da redução do salário dos homens, mas isso ocorreu sem a mudança da atribuição de tarefas domésticas: Mulheres de baixa renda além de limparem a própria casa, foram contratadas para limpar e cuidar das crianças de “patroas”. Atualmente famílias de classe-média encontram dificuldades em contratar Diaristas, enquanto não localizam quem ocupe o cargo essas tarefas são realizadas pelas moradoras: Mães e filhas cozinham, lavam, passam e tiram a mesa, deixando no máximo que os homens vez ou outra lavem a louça. Havendo distribuição, não há sobrecarga.

Donas-de-casa merecem respeito, se essa é sua escolha, siga-a e certifique-se que sua/seu companheira (o) não usará isso contra alegando que “te sustenta” ou que há obrigações “conjugais” em decorrência disso.

Aborto

Escrevi sobre aqui.

Feministas podem usar sutiã, salto-alto, maquiagem? Fazer Streap-Tease?

Sim, existem feministas que se sentem bem usando salto-alto, maquiagem e fazendo streap-tease. A crítica que feministas (inclusive eu) fazem sobre essas práticas referem-se a obrigatoriedade contida em padrões estéticos restringindo as formas de sentir-se bela. Outro dado importante a ser considerado, é que somos influenciadas pelo meio que fazemos parte, nossos desejos e concepções não vieram “do vácuo”, especular suas origens é um exercício de auto-análise que não restringe práticas.

Em tempo: A “queima de sutiãs” foi uma invenção midiática.

Se vocês odeiam tanto os homens, por que querem se parecer com eles?

Essa acusação é característica de quem faz uma idéia absolutamente caricata de um movimento que sequer pesquisou sobre, feministas são plurais. Ninguém “quer parecer homem”, há diferença entre gênero, orientação e prática sexual, não compreender essas categorias pode levar ao equivoco.

O que vocês têm contra pornografia? São frígidas?

O segmento feminista que é anti-pornografia argumenta contra uma indústria que sexualiza opressões (de classe, gênero e raça) e objetifica os sujeitos.

Alguns textos sobre

Está ouvindo os gemidos? São da engrenagem.

Pornô

Sexo Abstrato

Considerações sobre o estupro

Pornografia Gay Masculina – Uma matéria de Sexismo

Sim, pornografia é racista

Tenho que ser lésbica?

Ninguém escolhe por quem sente tesão. Em tempo, nossa matriz é baseada em relacionamentos heterossexuais com divisão nos papéis de gênero, sendo assim, é possível encontrar lésbicas que exigem comportamentos “femininos” de suas parceiras. O relacionamento lesbiano geralmente é mais igualitário não só por tratar de uma união entre gênero, identidade e prática sexual, mas porque essa transgressão quebra uma série de protocolos das dicotomias de poder, entre elas o intercurso e suas simbologias.

Incomodo-me com os comentários machistas que ouço, mas não sei revidar, nem quero que me achem chata, sou covarde?

Não, não é covardia, é por motivação similar que tantas Trans, Lésbicas e Gays permanecem “no armário”, ninguém quer ser hostilizado, perder amigos, afastar quem se ama. O que ganhamos omitindo o que acreditamos? É preferível ser amada pelo o que simulamos?  Esclarecer seus posicionamentos entre as pessoas em que confia é uma prova de que pretende tê-las ao seu lado com honestidade e tolerância.

Um judeu não precisa explicar porque piadas com Holocausto o ofendem, mas as Feministas precisam justificar o porquê das piadas sobre o Goleiro Bruno serem uma afronta. Você é uma mulher e tem o direito de se ofender com o Sexismo.

Interesso-me pelo “Feminismo Teórico”, quais leituras recomenda?

Antes de recomendar leituras, considero importante esclarecer que ser feminista não implica leituras obrigatórias, não é um teste dissertativo nem de assinalar quais respostas são certas ou erradas, tampouco qualquer feminista tem o poder de vetar “sua entrada no Mundo Feminista (?!)”

– Memórias da Transgressão – Gloria Steinem
– O Mito da Beleza – Naomi Wolf
– As boas mulheres da China – Xinran
– O Segundo Sexo I e II – Simone de Beauvoir
– A política sexual da carne – Carol J. Adams (confira uma entrevista com a autora e o lançamento do livro no Brasil, nesse link)
–  A Cor Púrpura – Alice Walker
– As Brumas de Avalon – Marion Zimmer Bradley
– A voz do dono – Tama Starr
– As heroínas saem do armário – Lúcia Facco
– Como ser mulher – Caitlin Moran
Cem homens em um ano – Nádia Lapa

Na barra lateral a direita há a Categoria “Feminismo não é palavrão”, são links de blogs Feministas.

Se não fosse pelos homens ainda viveríamos em cavernas, nomes de rua são masculinos.

A História é construída pelas ações dos que nela habitam (tod@s), estudos de Gênero e seu debate são incluídos na pauta de muitas Universidades. Se as “Ciências” tem seus “Pais” (Freud, Galileu, Descartes) é devido ao acesso restrito a informação aos considerados de “segunda classe”,  já reparou que quase todo “Grande Pensador” é/foi branco?

O problema é o Femismo! Femininazis!

Femismo não existe, é um termo usado para reforçar os estereótipos ameaçadores que alardeiam sobre o feminismo. Não há estrutura histórica que permita uma opressão as avessas: Seriam homens queimados por serem bruxos, garotinhos sentando de perna fechada e garotas mijando na rua, casamentos forçados, estupros em massa, estigmatização médica (histeria e loucuras associadas ao gênero), Políticas, aparato bélico e Estatal , grandes ídolos, escritoras, ou seja, a base da nossa cultura seria de “Mulheres Viris” e “Homens Frágeis”

Post útil- Feminazi: ignorância a serviço do conservadorismo

Eu sou homem! E presto!

É fundamental reconhecer privilégios, não é motivo de soberba.
Colocar-se no lugar do outro (empatia) é o mínimo que se espera, sou branca e não sou “especial” por respeitar negr@s, tenho acesso a alimentação diversificada em uma cidade grande e posso ser Vegan. Bacana, estamos construindo um mundo melhor, quer uma medalha? Um troféu? Não espere mulheres aos seus pés por respeitá-las, buscamos igualdade, não subserviência.

Quem é aquela mulher mostrando os braços com lenço vermelho na cabeça?

Rosie, the Riveter

  • Rosie, a rebitadora, ícone cultural e feminista nos EUA: por Jacqueline

    Quando os EUA entraram na Segunda Guerra Mundial, em dezembro de 1941, e os homens foram enviados para a linha de frente, ficou a questão: “quem iria trabalhar nas fábricas, principalmente produzindo material bélico?”.

    Para satisfazer essa necessidade emergencial de mão de obra, o governo americano passou a convocar as mulheres que, até então, eram estimuladas a ficar em casa, cuidando dos filhos e esperando o marido chegar do trabalho.

    “Rosie, the Riveter” foi criada como um personagem de campanha para convencer as mulheres a dar a sua contribuição à guerra. Em 1940, apenas 10%, das mulheres que trabalhavam, estavam em fábricas. Em 1944, esse tipo de emprego já representava 30%. Apesar do salário ser desigual (a média de salário de um homem trabalhando numa fábrica, na guerra, era de U$54.65 por semana, enquanto que as mulheres recebiam apenas U$31.21, pelo mesmo trabalho) e com péssimas condições de trabalho, muitas mulheres cederam ao apelo de “Rosie”, que as convenceu que entrar no mercado de trabalho seria um “dever patriótico”.

    Em 1942, somente entre os meses de janeiro e julho, estima-se que a proporção de empregos “aceitáveis para as mulheres” nos EUA aumentou de 29 para 55%. Em 1945, uma em cada três trabalhadores era uma mulher. Com o fim da guerra, e a volta dos homens ao país, a expectativa era que todas as mulheres “devolvessem” seus empregos, automaticamente.

    Muitas “Rosies” voltaram pra casa, mas muitas outras, e as suas gerações seguintes, perceberam que o trabalho em fábricas era uma possibilidade para as mulheres e se recusaram a desistir do seu salário (ainda que pequeno) para voltar a cozinhar tortas de maçã pros maridos e filhos.

    De todos os cartazes utilizados na campanha de guerra, o mais famoso é o de “Rosie, the Riveter”, que diz “We Can Do It” (“Nós podemos fazê-lo”), que teve como modelo Geraldine Doyle, uma operária de 19 anos, de uma fábrica de Michigan, em 1942 e virou símbolo do movimento feminista em todo mundo!

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